quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Silêncio de Edgar Allan Poe


Escuta - disse o demónio, pousando a mão sobre a minha cabeça. -O país de que te falo é um país lúgubre. na Líbia, ás margens do rio Zaire. E ali não há repouso nem silêncio.


As águas do rio, amarelas insalubres, não correm para o mar, mais palpitam sempre sob o olhar ardente do Sol.com um movimento conclusivo.De cada lado do rio, sobre as margens lodosas, estende-se ao longe um deserto sombrio de gigantescos nenúfares, que suspiram na solidão, erguendo para o ceú os longos pescoços espectrais e meneando tristemente as cabeças sempiternas. E do meio deles sai um sussurro confuso, semelhante ao murmúrio de uma torrente subterrânea. E os nenúfares, voltados uns para os outros, suspiram na solidão. E o seu império tem por limite uma floresta alta, cerrada, medonha! Lá, - como as vagas em torno das Híbridas, pequenos arbustos agitam-se sem repouso, contudo não há vento no céu! - e as grandes árvores primitivas oscilam continuamente, com um estrépito enorme. E dos seus cumes elevados filtra, gota a gota, um orvalho eterno. A seus pés contorcem-se num sono agitado, flores desconhecidas - venenosas. E por cima das suas cabeças, com um ruge-ruge retumbante, precipitam-se as nuvens negras a caminho do ocidente, até rolarem as cataratas para trás da muralha abrasado do horizonte. E nas margens do rio Zaire há repouso nem silêncio.


Era a noite e a chuva caía enquanto caía, era água mas quando chegava ao chão era sangue! E eu estava na planície lodosa, por entre os nenúfares, vendo a chuva que caía sobre mim. E os nenúfares voltados uns para os outros suspira na solenidade da sua desolação. De repente apareceu a lua através do nevoeiro fúnebre vinha toa carmesim! e o meu olhar caiu sobre um rochedo enorme, sombrio, que erguia a borda do Zaire, reflectindo a claridade da lua; era um rochedo sombrio sinistro de uma altura descomunal!


Sobre o seu cume estavam gravadas algumas letras. Caminhei através dos pântanos de nenúfares, até a margem para ler as letras gravadas na pedra; mas não pude decifrá-las. Ia voltar quando a lua brilhou mas viva e mais vermelha; olhando outra vez para o rochedo distingui só caracteres. E esses caracteres diziam: desolação.


Levantei os olhos; na crista do rochedo estava um homem de figura majestosa. Pendia-lhe nos ombros a antiga toga romana, cobrindo-se até os pés. Os contornos da sua pessoa não se distinguiam, mas as feições eram as da divindade porque brilhavam através da escuridão da noite a do nevoeiro tinha a fronte alta e pensativa, os olhos profundos e melancólicos. Nas rugas do semblante, liam-se as legendas da desgraça e da fadiga o aborrecimento da humanidade e o amor da Solidão. Escondi-me no meio dos nenúfares para ver o que aquele homem fazia ali.


E o homem assentou-se no rochedo, deixou prender a cabeça sobre a mão e espraiou a vista pela solenidade , contemplou os arbustos buliçosos e as grandes árvores primitivas; depois ergueu os olhos para o céu e para a lua carmesim.


Eu observava as a acções do homem escondido no meio dos nenúfares e o homem tremia na solidão. Todavia a noite avançava e ele continuava assentado sobre o rochedo.


Então o homem desviou os olhos do ceú para o rio lúgubre para as águas amarelas do Zaire,e para as legiões sinistras dos nenúfares; escutou-lhes os suspiros melancólicos e as oscilações murmurantes, e eu o espreitava sempre, do meu esconderijo e o homem tremia na solidão. Todavia a noite avançava e ele continuava assentado sobre o rochedo.


Embrenhei-me na profundeza longínquos do pântano, caminhei sobre as flores dos nenúfares e chamei os hipopótamos que habitavam a espessura do bosque. E os hipopótamos ouviram o meu chamado e vieram os Behemothes até o pé do rochedo e soltaram um rugido medonho. E eu, escondido por entre os nenúfares, espreitava os movimentos do homem e o homem tremia na solidão. Todavia a noite avançava e ele continuava assentado sobre o rochedo.


Então invoquei os elementos e uma tempestade horrorosa rosa sobreveio. E o céu tornou-se lívido pela violência a tempestade e a chuva caía em torrente sobre a cabeça do homem e as ondas do rio transbordavam e o rio espumava enfurecido e os nenúfares suspiravam com mais forca, e a floresta debatia-se com o vento, e o trovão rebombava e os raios flamejavam, e rochedo estremecia. Irritei-me e amaldiçoei a tempestade, o rio e os nenúfares, o vento e as florestas, o céu e o trovão. E na minha maldição os elementos emudeceram e a lua parou na sua carreira, e o trovão expirou e o raio deixou de faiscar no seu imenso leito, e as árvores cessaram de se agitar, e os nenúfares não suspiraram mais e na floresta não se tornou a ouvir o mínimo murmúrio, nem a sombra de um som no vasto deserto sem limites. Olhei para os caracteres escritos no rochedo e os caracteres diziam agora: Silêncio.


Volvi outra vez os olhos para o homem, e o seu rosto estava pálido de terror. De repente, levantou a cabeça, ergueu-se sobre o rochedo e o pôs o ouvido á escuta.


Mas não se ouviu nenhuma voz no deserto ilimitado. E os caracteres gravados no rochedo diziam sempre: Silêncio. E o homem estremeceu e fugiu para tão longe fugiu que jamais o tornei a ver.


Ora, os livros dos magos, os melancólicos livros dos magos encerram belos contos, esplêndidas histórias do céu, da terra e do mar poderosos; dos génios que têm reinado sobre a terra, sobre o mar e sobre o céu sublime. Há muita ciência na palavra da Sibilas. E das florestas sombras de Dodona saíam outrora oráculos profundos.


Mas jamais se ouviu uma história tão espantosa como esta! Foi o demónio que me contou, assentado a uma lado, na solidão do túmulo. Quando acabou de falar, desatou a rir como não pudesse a rir com ele, amaldiçoou-me. Então o lince, que vive eternamente no túmulo, saiu de seu esconderijo e veio deitar-se aos pés do demónio, olhando-o fixamente nas pupilas.
----> Porque nem sempre os "Posts" podem ser parvos, ou simplesmente sem sentido.
Vá, vá, incrementem a vossa cultura, sim?

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